"Na semana em que
recordamos e celebramos a vocação do padre, trazemos na íntegra, a partilha
vocacional do padre Michel,
missionário Xaveriano em missão no Japão. Nossa gratidão desde já pela sua disponibilidade ao nosso convite e pelo testemunho que também nos enche de
alegria nesta mesma caminhada! Acompanhem a partilha!" (Giomar Henrique Clemente)
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VOCAÇÃO...
(Pe. Michel Luciano)
Pe. Michel e as professoras da creche, festa de comemoração do verão- Japão |
Eu
me chamo Michel Luciano Augustinho da
Rocha. A minha família é constituída dos meus pais, já falecidos, e tenho
uma irmã mais nova. Nasci em Centenário
do Sul, norte do Paraná, no dia 21
de abril de 1977. A minha comunidade de origem é a Paróquia Nossa Senhora das Graças de Centenário do Sul.
CHAMADO VOCACIONAL...
A
minha família é originária da Itália. Os meus bisavós vieram ainda pequenos da
Itália, fugindo da pobreza da Primeira
Guerra Mundial. No inicio vieram para São
Paulo, e depois, para trabalhar nas plantações de café, foram para o norte do Paraná. A minha família sempre
foi muito católica. Desde recém-nascido, os meus pais me levavam à missa. A
paróquia foi fundada pelos Xaverianos e eu frequentei toda a catequese alí.
Desde os 7 anos de idade entrei no grupo dos coroinhas e todos os dias eu
frequentava a missa. Nas quintas e sextas-feiras, junto com os Padres da paróquia,
eu ia às fazendas para a missa. Esse fato foi muito importante para despertar a
minha vocação, pois via que as pessoas das fazendas esperavam com muita alegria
os padres, e como tinha a missa somente uma vez por mês, não tinha somente a missa, mas também confissões, primeira-comunhão,
batizados.
Fui
coroinha dos 7 aos 14 anos de idade.
Nós éramos um grupo de 40 crianças. Nesse tempo trabalhavam na paróquia os padres Pietro Lamana, Flavio Cossu, Giuseppe
Chiarelli e Giovanni Femminella.
Era uma comunidade muito bem animada, e dava para perceber que eles gostavam de
trabalhar juntos. Até os 14 anos de idade, nenhum deles falou nada sobre a
vocação sacerdotal missionária. Como eu estava terminando a 8ª serie, e tinha que pensar o que
fazer como 2° grau, o padre Flavio que me conhecia muito bem,
me convidou para fazer um Encontro
vocacional no Seminário de Londrina. Esse encontro durou um final de
semana.
Durante
esse encontro, eu deixei que Deus pudesse me falar através das palestras e das
orações que nós fizemos. Eu conhecia muito bem os Xaverianos, pois fui batizado
por um Xaveriano, padre Renato Gotti.
Fiz a minha primeira confissão e comunhão com um Xaveriano, padre Flavio, e fui crismado pelo Bispo Dom Geraldo Majella Agnelo, Bispo
de Londrina, mas tinha os Xaverianos ao lado dele. No final desse encontro, o
Reitor do Seminário, padre José Maria
Ribeiro dos Santos veio falar comigo e me convidou para entrar no próximo
ano no Seminário. Eu sem pensar muito, disse sim, e em 02 de fevereiro de
1992, entrei no Seminário Xaveriano
de Londrina. Eu tinha 14 anos de
idade quando entrei. Nunca tinha passado mais de 3 dias fora de casa. No início,
a maior dificuldade foi por parte da minha família, principalmente da minha
mãe, pois era muito difícil para ela não ter mais perto dela o filho. Também
para o meu pai foi difícil, pois ele tinha o sonho que eu seria advogado. Mas os anos se passaram, e eles se convenceram
que a minha estrada era aquela missionaria, e ficaram muito felizes por
isso. Como sempre foram muito fervorosos, ajudando muito na paróquia. Eles
deixaram com que Deus pudesse chamar o filho deles para seguir a Jesus na vocação consagrada xaveriana.
DECISÃO DE VIVER A VOCAÇÃO...
Acredito
que não foi somente no dia 02 de fevereiro
de 1992 que eu decidi de viver a vocação
missionária xaveriana. Tanto antes, como depois, tiveram vários fatos que
fizeram com que eu renovasse essa decisão. O meu processo de formação começou
em Londrina, mas depois de 4 anos, os outros 4 da minha turma desistiram e eu
fiquei sozinho para ir à Curitiba, na etapa da Filosofia. Mesmo assim, fui para
Curitiba e comecei a Filosofia.
Nesse
primeiro ano, no dia 01 de setembro de
1996, minha mãe morre de repente de enfarto do coração. Eu estava em
Curitiba e ela em Centenário do Sul. Esse fato foi muito importante para
novamente decidir de viver a vocação
xaveriana, pois tanto meu pai, como minha irmã ficaram muito abalados com
essa morte, e com o apoio dos meus formadores e também da comunidade, pude
continuar a formação e os estudos. Depois, no final da etapa da Filosofia,
também ali fiquei sozinho mais uma vez. Como deveria fazer o Noviciado, foi
decidido que eu fosse para a Itália,
fazer o noviciado em Ancona.
Acredito que esse momento também foi um renovação da decisão.
Ter
feito o noviciado internacional em Ancona ajudou muito na minha vocação, pois
foi a primeira vez que experimentei a realização do sonho do nosso Fundador: que o
mundo seja uma só família. Pois, éramos italianos, espanhóis, um dos
USA e eu de brasileiro, como noviços. Mas todos nos sentíamos na mesma família.
Também durante o período de Teologia
na Itália tiveram vários fatos que
me ajudaram a fortalecer a decisão tomada tantos anos atrás. Ali também nós
éramos 25 estudantes de 8 países diferentes. Essa experiência
foi desafiadora, e ajudou muito a moldar a minha vocação.
Fui
ordenado no dia 29 de abril de 2006
em Centenário do Sul. Depois de 3
dias, morreu minha avó materna, madrinha do meu batismo. Depois de 1 mês, no
dia 01 de junho de 2006, morre
também meu pai, depois de ter lutado contra um câncer no cérebro por 5 anos.
Também esses momentos me ajudaram a amadurecer na decisão. Na vida existem
tantos fatos, pessoas, situações que Deus coloca para que a decisão vocacional,
assim como o ouro é forjado no fogo, também essa seja purificada.
O SIGNIFICADO HOJE...
Atualmente
eu me encontro na missão do Japão,
já fazem 9 anos. A primeira missão
onde fui mandado, depois dos dois primeiros anos de estudo da língua, foi na cidade de Miyazaki, na ilha do Kyushu, sul do Japão. Ali eu
tive a primeira oportunidade de entrar em contato com um dos meios de
apostolado que os Missionários
Xaverianos utilizam aqui no Japão, que é o trabalho nas creches. Entre as obras utilizadas como meio de
apostolado no Japão, o trabalho nas
creches ocupa um lugar digno de consideração. Nós somos 33 Xaverianos que trabalham aqui Japão.
Desses 33 missionários, bem 17 deles ou trabalharam por muitos anos e agora são
em pensão, ou ainda trabalham nas creches. Eu atualmente sou vice-diretor de uma creche que tem 300 crianças, na cidade de Izumisano, na ilha
do Kansai.
Além
do trabalho na creche, eu também sou pároco de uma paróquia. O trabalho nas
creches é um importante meio para o nosso trabalho missionário aqui, mesmo que
os resultados não se vêem em curto prazo. Um dos pontos mais positivos que este
trabalho nos dá, consiste nos contatos
que temos com as famílias das crianças. Esses contatos são mais ou menos
longos, de acordo com quantos filhos o casal tem, e por quantos anos eles
colocam as crianças na creche. A creche trabalha com crianças que vão dos 3 aos 5 anos de idade. Depois disso, as
crianças entram na escola normal japonesa.
Dia da formatura das crianças do
terceiro ano, na creche - Japão
|
O
objetivo principal do nosso trabalho na educação é aquele de anunciar Jesus Cristo. A aplicação
prática desse princípio pode ser diferente, dependendo do lugar. Onde, por
exemplo, o Budismo tem uma grande
influência, o objetivo principal da creche é criar uma atmosfera de simpatia.
Sempre, porém, nós buscamos em qualquer lugar ganhar a confiança dos pais das crianças e também das autoridades
locais. O nosso contato, seja com a prefeitura, seja com o corpo de
Bombeiros, a Polícia e os hospitais, aqui no bairro são constantes. Outro
aspecto que nós procuramos animar é o contato constante entre as mães católicas
da paróquia e as mães das crianças da creche que não são cristãs. Para que isso
aconteça, o trabalho precisa ser sobre a direção de um missionário, para ajudar
nesse conhecimento mútuo das duas partes.
O
método mais comum e eficaz que nós utilizamos com o objetivo de fazer conhecer
aos pais, Jesus Cristo, é aquele de
se reunir mensalmente com as mães. Nessas reuniões, os pontos que tratamos não
são de promoção religiosa, mas sim, ligados propriamente à educação dos filhos
em base aos princípios católicos. Para obter mais facilmente este objetivo, são
distribuídos alguns livrinhos que tratam de problemas educativos, sociais,
éticos e domésticos. Durante os encontros mensais, os argumentos são: 1.
Dever dos pais com os filhos e vice-versa; 2. Espírito fundamental da educação;
3. A existência de Deus; 4. O objetivo da vida e 5. Uma educação sem Deus é inútil.
Não
é raro que depois desses encontros muitas mães exprimam o desejo de estudar
mais profundamente a religião católica para poder dar uma educação melhor para
os filhos. Nesse caso, as famílias das crianças conhecem melhor a Igreja e
assim, o campo é pronto para “jogar a semente da Palavra de Deus”.
É claro que a influência das crianças na conversão dos pais depende da
capacidade da creche em formar um bom caráter. As crianças com naturalidade e
simplicidade infantil repetem tudo aquilo que aprenderam na creche, em casa.
Quando nós falamos com as crianças sobre o nascimento de Jesus, a sua morte, da
criação como obra de Deus, elas repetem tudo em casa, e, depois, os pais falam
desses argumentos quando encontram as professoras. A porcentagem de conversões
aumenta ainda mais quando os filhos participam dos encontros que oferecemos aos
sábados, depois que eles terminaram o curso da creche. São encontros de
catequese abertos para as crianças de 6
a 15 anos de idade. Atualmente temos 100
crianças que participam.
Um dia de Encontro com as mães das crianças-Japão |
Primeiro dia de escola das crianças-Japão |
Sempre
gostei de pensar que antes da criação do mundo, antes mesmo que cada um de nós
existisse, Deus nos escolheu
pessoalmente para entrar em uma relação de filhos com Ele. Jesus morrendo
por nós nos colocou no mistério de amor
de Deus Pai, através do Espirito Santo. Cada um de nós é chamado por Deus a
viver como irmãos e irmãs de Jesus, nos sentindo filhos de um mesmo Pai. Esse é um dom que destrói qualquer projeto
exclusivamente humano. Não podemos cair na tentação de nos sentir
autossuficientes até o ponto de fechar o nosso coração ao plano de Deus para
cada um de nós.
O
amor de Deus, através do seu filho Jesus, pela força do Espirito Santo nos
chama. Para responder a esse chamado de
Deus não precisa ser perfeito. A fragilidade e os limites humanos não são
um obstáculo, porque contribuem para nos fazer entender que precisamos da graça
de Deus. Devemos nos lembrar da recomendação de Jesus: “A messe é grande, mas poucos são
os operários! Orai para que o dono da messe mande operários à sua messe!”
(Mateus 9, 37). Não surpreende que, onde
se reza com fervor, as vocações florescem. A santidade da Igreja depende
essencialmente da união com Cristo e da abertura ao mistério da graça que opera
nos corações das pessoas.
Procissão de Nossa Senhora no mês de maio- Japão |
Gostaria,
portanto, de convidar todos os fiéis a cultivar uma íntima relação com Cristo,
Mestre e Pastor do seu povo, imitando Maria, que guardava no seu coração os
divinos mistérios e os meditava assiduamente (Lucas 2, 19). E se Deus estiver te chamando para se consagrar totalmente à Ele,
não feche o seu coração!
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