Quando falamos de
vocação, proclamamos o testemunho de nosso chamado a todos. Cada ser humano tem
esse precioso dom dentro de si, como diz um padre xaveriano: “não tenho
vocação, sou vocação”. O chamado que o Senhor faz a cada um de nós é algo muito
particular e é tão real como a luz do dia. Ele continua chamando em todos os
tempos para dar continuidade a sua obra salvífica no mundo. Percebemos como o
mundo tem sede da Verdade que é Deus e nós como chamados temos a
responsabilidade de levar ao mundo essa Luz que clareia qualquer escuridão.
Nosso Senhor nos diz claramente que somos o sal e a luz do mundo (Cf Mt
5,13-14).
Observamos ao longo de
toda a Sagrada Escritura que a vocação é uma iniciativa de Deus, assim como
toda a obra de Redenção é iniciativa do Amor de Deus: Nós amamos porque ele nos
amou primeiro (Cf. 1Jo 4, 19). A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu
por nós, quando éramos ainda pecadores (Rom 5, 8), Ele deu tudo “antes”, sempre
faz tudo por nós, antes. Ao tratarmos da vocação que Deus nos chama antes mesmo
do nosso nascimento é necessário entrarmos no mundo “sobrenatural” da fé, sem
adentrarmos essa realidade não poderemos corresponder ao chamado de Deus,
chamado esse que vai muito além do aqui e o agora: “sem a fé é impossível
agradar a Deus” (Hb 11,6). Sei em quem acreditei – diz São Paulo em momentos
difíceis -, e estou certo de que ele é poderoso para guardar até aquele dia o
bem a mim confiado (2 Tim 1,12). No caminho da vocação, Deus é quem vai na
frente como Bom Pastor: Eu sou o Caminho (Jo 14, 6). A pessoa que esta no mundo
da fé, acredita nele, crê na Providência e, quando aparece na vida a Cruz, a
injustiça, o cansaço, a solidão, a incompreensão, a sensação de inutilidade e
fracasso…, não desanima nem abandona o caminho, não renega da vocação nem se
recusa a continuar.
A nossa vocação cristã é
um dom do Amor de Deus, um dom eterno: Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda bênção espiritual nos Céus, em
Cristo. Nele, Deus nos escolheu, antes da criação do mundo, pra sermos santos e
íntegros diante dele, no amor...(Ef 1, 3-6).
A vocação para a vida
religiosa e o sacerdócio é um grande dom eterno e gratuito do Amor de Deus.
Segundo João Paulo II é “um mistério um dom que supera infinitamente o homem”.
A vocação dos primeiros seguidores mostra isso de maneira clara. Todos eles são
“surpreendidos” por Cristo, que os procura e chama (Não fostes vós que me
escolhestes…: Jo 15, 16); e lhes faz ver que os tinha escolhido desde toda a
eternidade (mal vê Simão, irmão de André, fala-lhe como a um conhecido íntimo
Jo 1, 42).
A partir do momento em
que correspondem à vocação, já não há planos pessoais, nem há um roteiro
pré-estabelecido por Cristo. O caminho agora, é o próprio Cristo, dia a dia, e
o roteiro são, em cada momento, os seus passos. Diz Pedro: eis que nós deixamos
tudo para te seguir. Que haverá então para nós? (Não sabia o que viria, nem
Cristo lhe explicou com detalhes: Jesus disse-lhe apenas que não ficaria sem
nada, mas teria o cem por um (Cf. Mt 19, 29). A resposta dos discípulos é
confiante, baseada na fé, mesmo que tudo fique na escuridão; tendo a disposição
de seguir Jesus aonde quer que vá (Cf. Mt 8,19).
E, na hora da grande
crise, após o discurso do Pão vivo, quando muitos abandonam o Senhor, Jesus
também não explica nada aos Apóstolos desconcertados. Apenas lhes pede uma nova
confiança na chamada, abandono e entrega total em suas mãos: Vós também quereis
ir embora? E Pedro responde: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens palavras de
vida eterna, e nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus (Jo 6, 67-69).
A vocação exige de nós
fidelidade. Ser fiel não é “viver a vocação como desejo”, mas realizar o plano
que a Vontade de Deus me pede, e isso pressupõe alegrias, conquistas, tristezas
e derrotas. Se queremos ser fiéis, devemos estar dispostos a não ser o “santo”
que nós desejaríamos, mas o “santo” que Deus quer que sejamos, e que quase
nunca coincide com o ”nosso”. Vemos que Deus põe à prova a nossa fidelidade,
para fortalecê-la e torná-la mais sobrenatural, e isso não é um mal, é um bem
(Cf. Tg 1, 2-4 Rm 5, 3-5). Na vida existem provações, tentações, que são
permitidas por Deus (digo permitidas, pois existem certas tentações provocadas
ou alimentadas por nós). Essas provações podem ser interiores, espirituais ou
psicológicas: aridez, angústia, amargura, depressão; podem ser corporais, como
uma doença física ou um acidente que nos deixa limitados fisicamente; ou podem
ser externas, como uma perseguição, uma calúnia, uma injustiça, uma grave
dificuldade financeira, etc. Os seguidores e o próprio Cristo sofreram todas
essas tribulações basta olharmos atentamente os evangelhos e as cartas de S.
Paulo.
Diante de tudo o que foi
exposto, não esqueçamos: podemos ter a plena confiança de que “Aquele que nos
chamou é fiel” (Cf. I Ts 5, 24) e conhece muito bem nosso coração “sabe de que
barros somos feitos” (Cf. Sl 103.14). O chamado é exclusivo Dele. Nós somos
apenas seus servos que ao dizer nosso sim cotidiano contamos com toda a sua graça
para seguirmos correspondendo ao seu chamado de amor que nos realiza nos mais
íntimo de nosso ser. De nós apenas pede a disposição do coração: “Vem e
segue-me”.
Everson
L. Kloster
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