"Cumprimentos
de feliz ano novo! Que o coração humano seja o abrigo da paz e do amor!!!
Iniciar
o Ano Novo é celebrar a vida acolhendo-a como oportunidade de novos projetos. Numa
grande caminhada, muitos iniciam a “largada” e no decorrer do percurso acabam
fazendo outras opções. Chegar ao final também pode ser uma questão de escolha, mesmo que este final não seja a
conclusão definitiva do trajeto, mas parte de um percurso que nos impulsiona a
novos passos, novos vôos. O ano novo é este momento privilegiado de novos sonhos!!! Um abençoado 2016 a todos nós!!! É com este sentimento que partilho minha primeira reflexão nesse ano...a respeito da beleza e do dom da amizade. Boa leitura!!!"
Constata-se
em nossa caminhada que a vida se move num constante encontro e separação frente
ao horizonte que converge à felicidade. Nota-se que diversas pessoas permeiam
nossa relação desde a fecundação, gestação, nascimento, e continuam até o seu
declínio: a morte. O encontro com estas pessoas demonstra que somos seres de
relação e a nossa realização não se concretiza na solidão, mas, na interação
que a vida oportuniza.
Na
medida em que ganhamos autonomia, a responsabilidade pelo cuidado do outro
torna-se também nossa. É opinião geral que não se escolhe pai, mãe, irmãos,
irmãs, pois, são anteriores às nossas opções. Acolhemo-los e amamos como são,
pois são partes essenciais de nossa identidade. Damos a eles significado na
proporção que nos desenvolvemos, configurando-se assim na primeira comunidade
que nos acolhe, cuida, educa, de certa maneira “modela” nossa personalidade.
O
nascimento ao nos trazer ao mundo proporciona o encontro com o desconhecido. O
parto por sua vez é a nossa primeira aventura com a separação. O choro de um bebê
pode ser assim interpretado. Saímos do conforto do útero materno para enfrentar
o mundo e não se tem certeza por quanto tempo se ficará nele. Manter-se vivo
implica múltiplos elementos, mas, diretamente o cuidado de quem nos trouxe ao
mundo. Imaginar a fragilidade que representa um recém-nascido, totalmente
dependente de terceiros, remete-nos indiscutivelmente a contemplar que somos o
que somos porque tivemos pessoas que nos amaram e continuam nos amando. E o
amor é o grande mistério que move o ser humano.
Com
o passar dos anos amplia-se o universo das relações. A escola, comunidade,
igreja, estudo, trabalho, nos acrescentam pessoas com quem passamos a conviver.
O contato inicialmente nos faz meros colegas de um mesmo espaço. Aos poucos a
proximidade e a identificação possibilitam a constituição da amizade. Ela promove
o nascimento da confiança, da partilha, do cuidado. O próprio conhecimento
humano. E quem são os amigos? É um questionamento que não tem resposta que a
conceitue de maneira definitiva. Somente a vivência consegue demonstrar na sua
totalidade. Descrever seria uma tentativa de esboçar aquilo que apenas a experiência
concreta oferece.
Afirma-se
que os amigos são pessoas escolhidas para caminharem conosco. Analisando esta frase
percebe-se que esta escolha não acontece de maneira breve e não depende de uma
única pessoa. Pode-se desejar ser amigo de alguém e fazer todo o esforço para
alcançar este fim. No entanto, uma parcela da resposta e também do esforço cabe
a outra pessoa. Vendo assim, pode-se concluir que a escolha dos amigos é uma
escolha recíproca, cabendo ao outro corresponder ou não a esta manifestação.
Comumente
o termo “amigo” soa como algo muito simples. Porém, quem vivencia sabe a
profundeza do seu significado, a exigência que representa seu cultivo e a
raridade que é encontrar no cotidiano da vida. Por outro lado, encontrar um
amigo de verdade é uma imensa alegria. Quem assim o fez, tornou-se uma pessoa
privilegiada. Diz a música que “quem encontrou
um amigo jamais morrerá”. Estas são tentativas de descrever a beleza e a
riqueza que este encontro promove.
Aristóteles, na sua obra Ética a Nicômaco, no livro VIII, reflete sobre a amizade, distinguindo em três tipos. As duas primeiras ele chama de amizades acidentais e são baseadas na utilidade e no prazer. No centro dela está o interesse. Ela continua a existir enquanto é útil. Perdendo tal finalidade, extingue-se também a amizade. Segundo o filósofo “Aqueles que fundamentam sua amizade no interesse, amam-se por causa de sua utilidade, por causa de algum bem que recebem um do outro, mas não amam um ao outro por si mesmos. O mesmo se pode dizer a respeito dos que se amam por causa do prazer; não é por causa do caráter que os homens amam as pessoas espirituosas, mas porque as consideram agradáveis”. (p. 175)
O
terceiro tipo, Aristóteles classifica como a amizade verdadeira porque se fundamenta não na utilidade e nem no
prazer. Ela tem o fim em si mesma e caracteriza-se pela reciprocidade. Nesta, os
amigos desejam o bem um ao outro na mesma intensidade. Assim sendo, esta exige
tempo para ser edificada, pois a confiança e a própria abertura só nascem com a
proximidade. É no cotidiano que a amizade vai sendo construída. Conhecemos o
outro e nos deixamos também conhecer. Aristóteles enfatiza que “é
natural que tais amizades sejam raras, pois homens assim são também raros.
Além, disso, uma amizade dessa espécie exige tempo e intimidade. Como diz o
provérbio, as pessoas não podem conhecer-se mutuamente enquanto não tiverem
“consumido muito sal juntos”; e tampouco podem se aceitar como amigos enquanto
cada um não parecer digno de amizade ao outro, e este não lhe houver conquistado
a amizade. (p. 176)
Em
cada lugar onde fazemos a caminhada, encontramos pessoas com quem estabelecemos
amizade e passamos a considerar amigos e consequentemente irmãos. Com eles
partilhamos os desafios, sonhos e projetos, e a vida torna-se mais bela. A certeza
de não estar sozinho faz toda a diferença, pois cada momento celebrado, cada
conquista festejada não é um momento individual. Assim sendo, a VIDA tem a
sensibilidade e a contribuição silenciosa dos amigos que em algum momento partilharam
um pouco de si.
Sendo
a dinâmica da vida uma busca frequente pela realização no campo profissional,
intelectual, social, vocacional, entre outros, tal movimento se alterna entre “chegada”
e “partida”. Negar o sofrimento que nos invade nessas circunstâncias seria
ridículo. Ser indiferente ao sentimento não nos faz mais fortes, pelo
contrário, diminui muito mais a nossa dimensão humana. Intenso egoísmo seria evitar
fazer amigos no intuito de evitar o sofrimento no momento de ir embora. Esses
momentos nos fazem perceber se embarcamos na vida de fato ou somente passamos
por ela.
Embora
trilhemos os mesmos trajetos, vivenciemos os mesmos momentos, a percepção que
cada pessoa abstrai sempre será diferente. O significado maior da amizade é que
nos fazem ser mais humanos. Nesse contexto, separar-se dos amigos é sempre
difícil. No entanto, não se pode evitar. As pessoas não são eternas e em algum momento
a despedida “adeus, até mais, até logo...” será preciso. Compreendemos com
o tempo que cada partida carrega consigo os sonhos a serem concretizados,
lugares a serem conhecidos, pessoas a serem amadas, Reino de Deus a ser
construído. O próprio evangelho nos adverte “Se o grão de trigo que cai na terra não
morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto.” (Jo 12, 24)
Não
estar presente fisicamente não significa a extinção da amizade. Os meios de
comunicação na atualidade são recursos que nos colocam em comunhão com os
amigos que caminham do outro lado. A amizade perdura se ela continua a ser
cultivada, cuidada. Esta seja talvez a grande responsabilidade da vida. Aristóteles
fala que “A distância não faz desaparecer a amizade em absoluto, mas somente a
sua atividade. No entanto, se a ausência se mantém por muito tempo, parece de
fato fazer com que as pessoas esqueçam sua amizade; e vem daí o provérbio ‘a
ausência desfaz as amizades’.” (p. 178) Entende-se
assim que a amizade não é fruto do acaso, mas dom de Deus. Sendo dom, a
gratuidade se enriquece na partilha. Bendigo ao Senhor pelos amigos que a vida
propiciou construir. Na distância que cada um caminha, a alegria e os desafios
da caminhada se revestem de significado e nos animam na missão de portadores da
Boa Nova à toda humanidade! E até que nos reencontremos, que a oração seja a
nossa grande sintonia a nos colocar em comunhão!
Amigo e irmão de Ananindeua-PA |