domingo, 12 de junho de 2016

Migração e ecologia

Ocasionalmente pode-se deparar com as palavras “imigrante”, “emigrante”, “migrante” e perguntar-se a respeito do significado, considerando a semelhança na composição de ambas. Todas falam da mesma ação, do deslocamento de pessoas, porém, cada uma expressa esse movimento num sentido específico. Assim, compreende-se: imigrar como a entrada num país estranho para nele viver; emigrar, deixar um país para se estabelecer em um outro; migrar, o movimento de mudar periodicamente, seja num âmbito de uma região ou de um país para o outro.
Na data de hoje, 12 de junho, na qual se comemora o dia dos namorados, acentuada explicitamente nos meios de comunicação, inicia-se também, talvez com uma abordagem pequena nestes mesmos espaços, a 31ª Semana do Migrante, que se encerrará no dia 19. Traz neste ano como tema de reflexão “Migração e ecologia”, e o lema “O grito que vem da terra!”, promovido pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM). A temática se desenvolve em comunhão com a Campanha da Fraternidade desse ano, refletindo sobre a ecologia numa perspectiva de responsabilidade do ser humano com a casa comum, o planeta Terra. A campanha faz o forte apelo à todos para tomar consciência do cuidado com a vida do planeta, que é a própria vida do homem.
O desafio que a Semana do Migrante suscita é olhar atualmente a relação existente entre migração e ecologia, de modo a sensibilizar todo cidadão para a escuta dos diversos gritos que brotam da terra. Para o desenvolvimento dessa dinâmica de trabalho se utilizará as reflexões do Papa Francisco sobre a ecologia, contidos no documento Laudato Si, publicado ano passado. O texto base desta Semana destaca as palavras de Papa Francisco abordando o reflexo desta ausência de cuidado com o planeta. Segundo ele (2015, p.37) “É trágico o aumento dos migrantes fugindo da miséria piorada pela degradação ambiental, que não são reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais e levam o peso de suas vidas abandonadas sem proteção normativa alguma”. Nesta compreensão, identifica-se as pessoas que migram por causa das dificuldades de acesso à terra e água, vítimas da migração forçada.
O texto base apresenta ainda o conceito e a prática do Bem Viver como fundamento que se orienta pela co-responsabilidade solidária, onde se concebe a natureza sujeito de direitos. Esta visão implica mudar o modo de pensar e agir, pautando o bem comum acima dos interesses individuais, contrariando a essência do capitalismo. Ele continua a afirmar que “No Bem Viver o valor de uso da mercadoria está acima do valor de troca, o lucro não é o mais importante. Além disso, o Bem Viver é importante porque ajuda a pensar a articulação das intuições que advém das comunidades. O problema é que o capitalismo apregoa o viver bem, o viver melhor, prometendo o céu através do consumo, tornando o meio ambiente, nas palavras do Papa Francisco, ‘indefeso ante os interesses do mercado divinizado, convertido em regra absoluta’ (Laudato Si, 2015, p. 45)”.
O subsídio conclui ressaltando que a esperança por melhorias para os migrantes e empobrecidos estão nas lutas por libertação, recordando assim as utopias presente em toda a América Latina (indígena, da Terra Sem Males, dos imigrantes pobres, da libertação da escravidão). Também chama atenção de que a dominação econômica é seguida da dominação cultural, exercida por meio da alienação, negação do dominado e afirmação do dominador.
O Serviço Pastoral dos Migrantes- SPM, é um organismo ligado à CNBB, surgido em 1984 e criado oficialmente em 1986. Foi inspirado na Campanha da Fraternidade de 1980, onde se refletia o lema “Para onde vais?”, configurando-se numa interrogação central à todos os migrantes. Objetiva articular e organizar os migrantes e imigrantes em geral, em nível local e nacional. Tem como missão promover a defesa e a organização dos diversos grupos de migrantes, nas mais variadas situações, lutando por uma cidadania plena, universal, na qual os migrantes sejam tratados com igualdade na diferença.

Que o nosso coração missionário, imbuídos pelo carisma de São Guido Maria Conforti, faça-nos também sensíveis por meio da oração e de atitudes à esta realidade que perpassa nossa caminhada! 

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