Na exortação apostólica «Evangelii Gaudium», o Papa Francisco
insistiu na expressão de uma Igreja em saída, ou seja, de rosto missionário que
não fique encarcerada por seus muros esperando por seus fiéis, mas que seja
próxima, aberta, capaz de sair de si para ir ao encontro das pessoas, por
caminhos novos. Esse modelo de Igreja fez-se ressoar na vida de madre Teresa de
Calcutá de maneira sublime, ninguém melhor que ela para ser um modelo indicador
do caminho pelo qual a Igreja em saída deve traçar.
A Sagrada Escritura revela vários
exemplos de chamados divinos que movimentaram de maneira intensa a vida dos
escolhidos (Cf. Ex 3,1-15; Jr 1,4-10) conduzindo-os a uma radical tomada de
decisão e consequentemente a uma adesão singular que acarrete uma mudança de
seus costumes e hábitos, ou seja, uma conversão. Sabe-se que ao ouvir a voz amorosa
de Deus ninguém permanece de modo estável e refratário, sendo que a única coisa
que Deus propõe e espera de seus escolhidos é a confiança e o abandono total ao
seu querer, sobretudo, diante das frustações e desertos (Cf. Is 12,2). O resultado
da busca optada pelo escolhido será sempre uma aventura, a única coisa que sabe
é que deve sair de seus próprios planos deixando-se guiar apenas por Deus (Cf
Gn 12,1), pois parte da certeza de que sem Deus não há luz, não há esperança,
não há amor e por isso nem mesmo o futuro.
Provinda de uma família abastada, Agnes Gonxha Bojaxhiu, mais conhecida como Madre
Teresa de Calcutá, logo entrou para um convento onde emitiu os votos religiosos
e neste permaneceu até ouvir um chamado mais profundo da parte de Deus, chamado
esse que moveu sua vida de forma muito concreta e significativa. Não podia
continuar no conforto de seu convento e deixar Jesus que clamava “tenho sede”, representado nas pessoas
pobres e moribundas de Calcutá. Impulsionada pelo amor de Cristo, o mesmo amor
do qual São Paulo relata na II Cor 5,14: “O
amor de Cristo no impulsiona”, sai de si mesma; transformando seu projeto
pessoal de vida num doar-se inteiramente aos sofredores.
Por amor acolheu a todos que dela se
aproximavam, sejam hindus, muçulmanos ou cristãos tendo uma compaixão
entranhável frente ao drama humano. Impulsionada pelo amor de Cristo não se
deixou abater pelas dificuldades, mas soube ser fraterna, misericordiosa e
humilde, nunca pagando o mal com o mal (Cf. 1Pd 3,8), continuou a fazer o bem
para os menos favorecidos, sem temor, pois sabia que no fim das contas seria
julgada pelo Amor (Cf. Mt 25, 31-46). Impulsionada e movida pela doação a
Cristo, que incessantemente expressava a ela sua sede, construiu sua casa sobre
a rocha e nunca realizou o seu trabalho, motivada por interesses.
Madre Teresa, fez de sua Calcutá uma igreja
em saída e assim pôde encontrar o seu Senhor nas pessoas menos favorecidas da
sociedade, tanto que é perceptível em sua vida um viés de santidade que não
apregoa uma fuga da realidade e nem mesmo um individualismo ou abandono real
dos grandes problemas contemporâneos. Ela se santificou exatamente no exercício
de seu apostolado, tendo seu coração ligado ao céu, e aqueles que por ela foram
auxiliados viram em seu semblante o rosto misericordioso do Pai.
Assim sendo, sua vida e seus conceitos
se encarregaram de mostrar que estávamos diante de alguém que soube escolher a
melhor parte (Cf. Lc 10, 42) e por isso, a Igreja reconheceu nela as virtudes
necessárias para proclamá-la santa,
palavra que significa “sancionados, eleitos, escolhidos”. Que sua vida nos leve
a tomar consciência do verdadeiro espírito do cristianismo que não se deixa
enclausurar por estruturas engessadas.
Everson L. Kloster
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