segunda-feira, 2 de maio de 2016

Teresa de Calcutá: Uma santa em saída!




 Na exortação apostólica «Evangelii Gaudium», o Papa Francisco insistiu na expressão de uma Igreja em saída, ou seja, de rosto missionário que não fique encarcerada por seus muros esperando por seus fiéis, mas que seja próxima, aberta, capaz de sair de si para ir ao encontro das pessoas, por caminhos novos. Esse modelo de Igreja fez-se ressoar na vida de madre Teresa de Calcutá de maneira sublime, ninguém melhor que ela para ser um modelo indicador do caminho pelo qual a Igreja em saída deve traçar.
 A Sagrada Escritura revela vários exemplos de chamados divinos que movimentaram de maneira intensa a vida dos escolhidos (Cf. Ex 3,1-15; Jr 1,4-10) conduzindo-os a uma radical tomada de decisão e consequentemente a uma adesão singular que acarrete uma mudança de seus costumes e hábitos, ou seja, uma conversão. Sabe-se que ao ouvir a voz amorosa de Deus ninguém permanece de modo estável e refratário, sendo que a única coisa que Deus propõe e espera de seus escolhidos é a confiança e o abandono total ao seu querer, sobretudo, diante das frustações e desertos (Cf. Is 12,2). O resultado da busca optada pelo escolhido será sempre uma aventura, a única coisa que sabe é que deve sair de seus próprios planos deixando-se guiar apenas por Deus (Cf Gn 12,1), pois parte da certeza de que sem Deus não há luz, não há esperança, não há amor e por isso nem mesmo o futuro.
 Provinda de uma família abastada, Agnes Gonxha Bojaxhiu, mais conhecida como Madre Teresa de Calcutá, logo entrou para um convento onde emitiu os votos religiosos e neste permaneceu até ouvir um chamado mais profundo da parte de Deus, chamado esse que moveu sua vida de forma muito concreta e significativa. Não podia continuar no conforto de seu convento e deixar Jesus que clamava “tenho sede”, representado nas pessoas pobres e moribundas de Calcutá. Impulsionada pelo amor de Cristo, o mesmo amor do qual São Paulo relata na II Cor 5,14: “O amor de Cristo no impulsiona”, sai de si mesma; transformando seu projeto pessoal de vida num doar-se inteiramente aos sofredores.
 Por amor acolheu a todos que dela se aproximavam, sejam hindus, muçulmanos ou cristãos tendo uma compaixão entranhável frente ao drama humano. Impulsionada pelo amor de Cristo não se deixou abater pelas dificuldades, mas soube ser fraterna, misericordiosa e humilde, nunca pagando o mal com o mal (Cf. 1Pd 3,8), continuou a fazer o bem para os menos favorecidos, sem temor, pois sabia que no fim das contas seria julgada pelo Amor (Cf. Mt 25, 31-46). Impulsionada e movida pela doação a Cristo, que incessantemente expressava a ela sua sede, construiu sua casa sobre a rocha e nunca realizou o seu trabalho, motivada por interesses.
 Madre Teresa, fez de sua Calcutá uma igreja em saída e assim pôde encontrar o seu Senhor nas pessoas menos favorecidas da sociedade, tanto que é perceptível em sua vida um viés de santidade que não apregoa uma fuga da realidade e nem mesmo um individualismo ou abandono real dos grandes problemas contemporâneos. Ela se santificou exatamente no exercício de seu apostolado, tendo seu coração ligado ao céu, e aqueles que por ela foram auxiliados viram em seu semblante o rosto misericordioso do Pai.
 Assim sendo, sua vida e seus conceitos se encarregaram de mostrar que estávamos diante de alguém que soube escolher a melhor parte (Cf. Lc 10, 42) e por isso, a Igreja reconheceu nela as virtudes necessárias para proclamá-la santa, palavra que significa “sancionados, eleitos, escolhidos”. Que sua vida nos leve a tomar consciência do verdadeiro espírito do cristianismo que não se deixa enclausurar por estruturas engessadas.


Everson L. Kloster

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