quarta-feira, 24 de agosto de 2016

TER O MUNDO COMO O LAR...

(Giomar Henrique Clemente)
Pe. Lucas Marandi
Realidade concreta ou pura utopia? Esta pode ser uma indagação feita ao se deparar com a frase que dá título à presente reflexão. O dicionário de língua portuguesa define lar como “habitação doméstica de alguém; casa; família; a pátria, a terra natal”. Esta definição nos ajudará a entrar na proposta da temática que se deseja abordar e partilhar nessa conversa. Com base nessa compreensão, nota-se que ela agrega um conjunto de itens e abarca também pessoas, relações, vivência. O lar é o nosso lugar por excelência, onde somos nós mesmos, o espaço de vínculos fortes que nos mantém vivos. Todo ser humano tem um lar, o escolhe, o constrói e o cultiva.
Cada um já deve ter feito a experiência de se distanciar do seu lar e viver em outro espaço. A sensação é bem diferente. No mínimo, ninguém fica à vontade. Sempre permanece a ausência de algo e deixa-se de ter a liberdade que comumente a casa proporciona, e assim também com os familiares. A maioria das pessoas possuem um único lar, e fazem desse lugar a sua vida, pois, cada um lhe confere suas peculiaridades. Adequar o ambiente a seu modo é sentir-se parte dele, é assumi-lo como seu. Até aqui, nada de anormal, pois tal concepção é padrão, acredito que para todos. Mas, escolher o mundo como o próprio lar, ah, isso é fora de sério e até curioso. É esta aventura que vamos acompanhar na história de Pe. Lucas Marandi. Convido todos a colocarem os “óculos” da fé para fazerem a leitura num horizonte vocacional missionário.
Padre Lucas Marandi é Missionário Xaveriano, natural de Dinajpur, norte de Bangladesh, fronteira com a Índia, localizado no continente asiático. É o terceiro filho do casal Mondol Marandi e Elina Hembrom,  tendo também 01 irmão e 04 irmãs. Todos são casados e residem em Bangladesh.
O desejo de servir ao povo como padre sempre esteve presente, desde a sua infância, levando-o nessa busca a ingressar primeiramente no Seminário Diocesano, em 1994. Alí fez parte por três anos, de um grupo de seminaristas formado por 15 jovens. A rotina formativa se alternava entre estudos normais no colégio e estudos no próprio seminário. Passado esse período e chegado as férias, retornou para visitar seus pais e decidiu não mais continuar a formação diocesana. Iniciou no ano seguinte, a faculdade de Ciências Sociais. Curso que estudou por três anos, até 1997.
No ano de conclusão da faculdade, os Missionários Xaverianos promoveram um Estágio vocacional “Vinde e vede”, com duração de 01 semana. Naquela ocasião, um dos padres o convidou à participar do encontro. Ter aceito o convite mudou os seus planos e fez acender novamente dentro de si a chama vocacional de querer ser sacerdote. O encontro, além das reflexões e vivência com outros jovens, proporcionou visitar as missões xaverianas, especificamente o trabalho com pessoas portadoras de necessidades especiais, pertencentes a diversos grupos religiosos existentes naquela realidade. O contato com tais pessoas, sobretudo o trabalho desenvolvido pelos missionários, veio acompanhado do pensamento de São Guido Maria Conforti, Fazer do mundo uma só família”. Esta proposta ressoou no seu coração e se tornou um forte convite, levando-o a querer participar diretamente deste sonho. Escolheu assim ser também Missionário Xaveriano. E começou a formação na Congregação.
Acostumar com a nova modalidade de vida foram os primeiros desafios a serem superados, após a saída de casa. No entanto, o tempo e a perseverança foram sempre aliados constantes. Realizou os estudos de filosofia em Dhaka, capital de Bangladesh, e os estudos de teologia em Filipinas. Mudando de país, teve de aprender novos idiomas e acolher a novidade de cada cultura como dimensão da própria escolha de vida que decidiu abraçar. Essa abertura já iniciava na vida da própria comunidade formativa ao qual veio integrar, que era bem diversificada. Alí havia 08 nacionalidades diferentes. Os aspectos culturais, apesar de distintos, foram adotados como seus, assumindo também esta nova terra e novos irmãos como lar.
Em 09 de setembro de 2011 foi ordenado sacerdote e recebeu como sua primeira destinação missionária, o Brasil. Após dois meses, viajou para as terras brasileiras, aqui chegando a 20 de novembro de 2011. E a chegada novamente implicou no aprendizado do português, da cultura, e assim um outro ciclo de adaptação com o novo lar, o Brasil. Vir para cá não estava nos planos, pois, pretendia exercer a missão em algum lugar do próprio continente asiático. Entretanto, a consagração religiosa missionária tem a dimensão dos votos, também do voto de obediência, vivida sob a decisão dos superiores. Frente a isso, acolher a nova casa é acreditar na providência divina, protagonista primeira da missão.
A comunicação nos primeiros dias de chegada no Brasil era por meio de gestos, pois, o português era totalmente desconhecido. Esta situação colocava-o em conflito, questionando acerca da própria vinda para o país, e temeroso se conseguiria aprender o novo idioma. Ir para a escola foi necessário. Começar do zero, como criança que aprende as primeiras lições, foi fundamental, embora as dificuldades. Após meses de estudo, a comunicação foi ganhando espaço e esta possibilitou construir relações com mais afinco. Desenvolveu assim sua atividade missionária na Paróquia Imaculado Coração de Maria, em Piracicaba, São Paulo, de 2012 até 2014. Atualmente, é pároco da Paróquia São Guido Maria Conforti, na cidade de Hortolândia, São Paulo. Alí caminha com o povo, ajudando na evangelização, de modo especial com a juventude, a quem considera o grande presente de Deus.
O vocacionado missionário é aquele que deixou sua família de origem, amigos, campos, terras, por causa de algo maior: o projeto de Jesus Cristo. Por este tesouro encontrado decide partir aos destinos imprevisíveis, fazendo desses lugares o próprio lar. O mundo torna-se assim pequeno, porque transforma-se na grande casa, na grande família humana que sempre abre as portas para acolher o irmão que chega.

Que tal vir viver conosco também esta aventura? 

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