sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A PARÁBOLA DA ROSA


Certo dia um grupo de pessoas desejosas de encontrar a Deus e saber como reconhecê-lo na vida, nas flores, no canto dos pássaros e no brilho das estrelas foi visitar um monge retirado nas montanhas e tido por todos como santo. Depois de uma viagem longa, cansativa, mas cheia de esperança, o grupo chegou à cabana do monge: uma casa simples, pobre, ornada por um pequeno jardim onde estavam floridas várias rosas. Um dos visitantes falou para o monge: “Um dos motivos de nossa visita não é distraí-lo da sua intimidade com Deus, nem perturbar o seu silêncio, mas, simplesmente pedir sua ajuda para podermos chegar a reconhecer Deus em todos os conhecimentos e coisas do mundo. Sabemos que Deus está escondido, mas como reconhecê-lo?”.
O monge, sem dizer nada, ofereceu a seus visitantes seu mais belo sorriso. Depois de tê-los olhado um por um, disse: “Esperem, vou pegar a tesoura para cortar vários botões de rosa”. Cortou os botões mais belos. Deu um botão à cada um e depois disse: “Voltem para a cidade”. E a cada um deu uma tarefa. Um deveria entregar o botão de rosa a um bêbado da calçada; outro, a uma criança da creche; à própria mãe; a uma pessoa amiga; a uma irmã contemplativa. Depois deveriam voltar para comentar o que tinha acontecido. Partiram bem alegres com suas rosas. Depois de alguns dias voltaram para relatar ao monge a experiência da entrega dos botões de rosas.
Quem tinha dado sua rosa para o bêbado disse com muita raiva: “Dei a rosa a um bêbado deitado na calçada. Ele não gostou nem um pouquinho porque o acordei. Olhou-me de mau humor, disse-me uma ladainha de palavrões que me fizeram ficar vermelho e jogou-me a rosa na cara”.
Quem tinha oferecido a rosa a uma criança da creche não estava também muito feliz. “A minha rosa”, disse, “foi recebida, e depois de um pouco a criança arrancou uma a uma as pétalas e jogou fora o resto. Fiquei triste. A rosa mereceria um tratamento melhor”.
Quem tinha oferecido a rosa à mãe estava sorridente: “Minha mãe acolheu a rosa com muita alegria. Ficou maravilhada porque, até então, nunca lhe tinha dado uma rosa. Abraçou-me e beijou-me com carinho. As lágrimas correram soltas no seu rosto. Comoveu-se e comoveu-me”.
Disse o outro: “Arranquei uma pétala da rosa, escrevi nela ‘Teresa eu te amo’ e coloquei-a numa carta e a enviei à minha maior amiga. Não tardou a chegar uma carta cheia de sentimento de gratidão e de amor. Senti grande comoção e alegria que não sei explicar”.
Quem tinha entregado a rosa a uma monja carmelita de clausura estava radiante de alegria. A irmã recebeu a rosa e começou a louvar e bendizer a Deus por sua bondade e cantou o Magnificat de todo o coração.
O monge escutou silencioso todos esses relatos. Depois recolheu-se em silenciosa oração e disse: “Meus irmãos, a rosa foi a mesma, a do bêbado, da criança, da amiga, da mãe, da contemplativa. Cada um leu a mensagem segundo seu coração e seus olhos. Assim, cada um vê Deus por aquilo que guarda dentro de si, pela força do seu amor e de sua fé. Deus está onde você sabe enxerga-lo”. E retirou-se ao silêncio de sua cabana. Os outros voltaram à cidade, ao trabalho, e daí em diante sentiram viva a presença de Deus em sua vida, em seu dia-a-dia.


Fonte: SCIADINI, Patrício. À procura de Deus. São Paulo: Edições Loyola, 1996. p.15-16.

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