(Giomar
Henrique Clemente)
O
Congresso Eucarístico Nacional acontece na sua 17ª edição, na cidade de Belém,
estado do Pará, nos dias 15 a 21 de
agosto de 2016, com o tema “Eucaristia
e Partilha na Amazônia Missionária”, e o lema “Eles o reconheceram no partir do Pão”. O ano de 2016 é o momento celebrativo
para a cidade e para a Igreja de Belém, na comemoração dos seus 400 anos de
fundação, ocorrido no dia 12 de janeiro, e festejando também os 110 anos de
elevação à condição de Arquidiocese. É a segunda vez que a cidade acolhe o
Congresso, sendo a primeira realizada em 1953.
O
Congresso Eucarístico é o encontro de pessoas que professam a fé católica na
realidade da Santíssima Eucaristia e desejam testemunhar publicamente esta fé
na presença real do Senhor Jesus Cristo. Pode ser realizado em nível diocesano,
nacional e internacional. O primeiro Congresso Eucarístico no mundo ocorreu em Lille, França, em 1881. No
Brasil, iniciou em 1933, ocorrido em
setembro, na cidade de Salvador, Bahia,
e o último aconteceu em Brasília, 13 a 16 de maio de 2010, com o tema “Eucaristia, Pão da unidade dos discípulos
missionários” e o lema “Fica conosco
Senhor” (Lc 24, 29).
Maiores
informações no site oficial do Congresso: http://cen2016.com.br/.
Reproduzimos a seguir o texto de Dom
Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém, na qual faz a
reflexão acerca do lema do Congresso “Eles o reconheceram no partir do Pão”.
“
O Senhor antecipou sacramentalmente sua entrega na última Ceia. Após a
Ressurreição, ele se manifestou a seus discípulos. Como somos peregrinos na
história, queremos pedir ajuda aos discípulos de Emaús, para aprender a
reconhecê-lo no partir do Pão. Nosso desejo sincero é que todos os
participantes do XVII Congresso Eucarístico Nacional reconheçam sua presença e
se tornem missionárias e missionárias, levando consigo a riqueza do que
viveremos juntos, ajudados pela reflexão oferecida pelo Padre Giovanni
Martoccia SX, cujos pontos principais oferecemos a todos (Cf. Texto-base do
XVII Congresso Eucarístico Nacional, Edição da Arquidiocese de Belém).
O dia estava cinzento como o coração de todos
os discípulos, cheios de medo, dúvida e tristeza. As esperanças messiânicas
alimentadas por Jesus dissiparam-se no vento da repressão romana; e, junto com
elas, também o sonhos de um Reino de Deus, por tanto tempo acalentado, se
espatifou no iníquo patíbulo que recebeu a condenação do Justo. O testemunho
das mulheres de que o corpo de Jesus não estava no túmulo não foi suficiente
para convencer os apóstolos de que algo extraordinário havia acontecido.
Ninguém do grupo quis acreditar. Mas quantas vezes lhes confirmara que iria
ressuscitar! Entesourar a memória de sua palavra era pré-requisito indispensável
para não naufragar no meio da tragédia. Sua palavra, meditada no coração, é
âncora segura da fé, fonte de esperança e força propulsora do anúncio da Boa
Nova.
Dois discípulos, tendo deixado a cidade de
Jerusalém, teatro dos tristes acontecimentos da prisão e execução do Mestre,
dirigiram-se a Emaús, aldeia a duas horas de boa caminhada. Parecem querer
voltar a seu passado e esquecer tudo o que havia acontecido, enterrando a
última lembrança de suas esperanças frustradas. Mas era justamente esse pavio
fumegante que os impelia a conversar sobre aqueles mesmos eventos
inesquecíveis. O caminho pedregoso e acidentado ritmava os inconstantes e
ríspidos pensamentos de seus corações. Os olhos de sua memória parecem
fechados, completamente vedados, a ponto de não reconhecer nem mesmo o próprio
Jesus que, aproximando-se, pôs-se a caminhar com eles.
Estavam tão concentrados que não deram
nenhuma atenção ao desconhecido, que toma a iniciativa e puxa conversa,
perguntando sobre o assunto que os preocupava e que parecia tão sério: “Que é
que vocês vão discutindo pelo caminho?” Estavam tristes e abatidos pela morte
de seu Mestre, decepcionados porque pensavam que ele fosse o Messias, e agora
acham que se enganaram. Finalmente, eles param. Uma parada, nessa caminhada,
símbolo da nossa caminhada de vida, é o primeiro passo para compreender como
nos afastamos dele, a ponto que nem o reconhecermos mais, e quanta tristeza sua
falta trouxe em nossa vida. Ele nos visita, mas muitas vezes não percebemos sua
presença porque ficamos amarrados ao nosso velho modo de pensar, à nossa
imaginação que quer determinar o agir de Deus. O mesmo Jesus que eles conheciam
tão bem estava diante deles, conversando com eles e, mesmo assim, não o
reconheceram. Como é possível?
Na verdade, Jesus é o mesmo. São os
discípulos que mudaram; fechando-se em sua esperança frustrada não conseguem
mais reconhecê-lo. Antes, eles olhavam para Jesus com confiança, acreditavam
nele. Agora estão decepcionados e seu olhar é diferente. As falsas expectativas
lhes vendaram os olhos. No entanto, Jesus cumpriu todas as suas palavras, mas
não como eles imaginavam. É preciso receber algo novo, nova luz para que os
olhos se abram e, finalmente, o reconheçam.
A Jesus, que pergunta esclarecimentos sobre
esses acontecimentos tão graves, responde Cléopas com outra pergunta que parece
expressar espanto e irritação: “Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que
desconhece o que se passou aí nestes últimos dias?”. Jesus se mostra muito
interessado e pronto a ouvir tudo o que ocorreu. Cléopas informa o curioso
forasteiro dos fatos que tanto marcaram a vida deles. Conta tudo a partir do
ministério de Jesus, conhecido como o Nazareno. Mas os dois discípulos não
souberam acolher os acontecimentos e interpretá-los. Estão decepcionados!
A decepção dos discípulos é justificada pelo
fato que “já faz três dias que todas essas coisas aconteceram!” e ele não
apareceu. Depois de Jesus ter escutado com atenção toda a história que eles
tinham para contar, de repente os repreende com severidade. Jesus, com uma
pergunta sobre a necessidade do sofrimento do Messias dá início à catequese
pascal. É preciso que a vida de Jesus seja interpretada à luz das Sagradas
Escrituras.
Quando chegaram perto do povoado para onde
iam, ele fez de conta que ia mais adiante. “Fica conosco, porque é tarde e o
dia já declina”. Entrou então para ficar com eles. Realmente, a vida sem ele
fica muito escura, sem luz nem sentido, como peregrino em noite de lua nova. Se
compartilharmos nossa jornada com ele, ouvindo suas palavras, Uma vez à mesa
com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, o partiu e distribuiu entre eles.
Então, seus olhos se abriram e o reconheceram. É Jesus que toma a iniciativa,
que se aproximou deles e lhes explicava tudo. Na fração do pão, fez com que seus
olhos se abrissem. Eles agora o reconhecem. Será ainda Jesus que abrirá a mente
aos Onze para entenderem as Escrituras, pois tudo o que estava escrito tinha
que se cumprir.
Jesus desaparece no momento em que os dois
discípulos o reconhecem. É para nos advertir que não se trata de uma visão
extraordinária, mas do normal caminho da fé que nos conduz ao encontro com o
Cristo vivo na Eucaristia, na convivência fraterna, na escuta da Palavra, no
testemunho generoso e no compromisso evangelizador. Não são as feições físicas
que permitem reconhecer Jesus ressuscitado como o mesmo que foi crucificado,
mas o gesto distintivo de sua existência: a fração do pão, gesto que expressa e
traz presente seu dom de amor total e incondicional, seu serviço, seu viver
para os outros. No testemunho recíproco a fé manifesta sua dimensão
comunitária, revela sua força transformadora, revigora o coração e ilumina os
caminhos da Igreja. E disseram um ao outro: “Não ardia o nosso coração quando
ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?” Sob esse
impulso jubiloso, dois voltaram para Jerusalém. Voltou a esperança, o
entusiasmo, a fé e a força para retomar o caminho, ainda que seja longo e
difícil, e a noite adiantada. Mas a escuridão da noite já não assusta mais. A
luz que agora brilha no coração é mais que suficiente para vencer a treva
ameaçadora. Ao chegar a Jerusalém, mais uma surpresa agradável os aguarda.
Acharam aí reunidos os Onze e seus companheiros, que disseram: “É verdade! O
Senhor ressurgiu e apareceu a Simão!” Então, por sua vez, também contaram os
acontecimentos do caminho e como Jesus fora por eles reconhecido na fração do
pão.
À comunidade que se perguntava sobre como
reencontrar o Senhor Jesus hoje, Lucas narra o episódio dos discípulos de
Emaús. O relato visa a transmitir à comunidade a alegria do encontro com o
Senhor, o Vivente, e incentivá-la a buscar na comunhão e na vivência de Igreja
uma experiência pessoal de sua presença. Todos aqueles que buscam o Senhor de
coração sincero e apaixonado abrindo-se ao alimento de sua Palavra e da Ceia
eucarística, perceberão sua voz e sua presença. Jesus se faz presente, como
desconhecido, nos caminhos da vida, nos encontros inesperados, nos
acontecimentos cotidianos, que precisam ser compreendidos à luz de sua Palavra.
Trata-se de identificar a ação de Deus em nossa história, adquirindo uma
inteligência espiritual dos acontecimentos e fazendo “memória”, como Maria, no
coração.”
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